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Bebemos em torno de 2 litros de água por dia, um hábito essencial para a nossa saúde que aprendemos a cultivar desde a infância, quando também nos ensinam que a água deve ser inodora, insípida e incolor. Se o líquido não estiver nessas condições, você o beberia? O mesmo tipo de reflexão vale para a qualidade do ar que respiramos diariamente. A diferença é que nem sempre podemos identificar se ele está adequado ou não.
De acordo com o Qualindoor – Departamento de Qualidade do Ar Interno da ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), respiramos cerca de 10 mil litros de ar por dia e não conseguimos passar mais de poucos minutos sem ele.
Mas, por incrível que pareça, ainda não aprendemos a cuidar devidamente do ar em benefício da nossa saúde da mesma maneira que cuidamos da água ou dos alimentos que ingerimos. Quer ver alguns exemplos? Você sabe como está a qualidade do ar que respira agora, enquanto lê este artigo? Não importa se está dentro de casa, no escritório, no automóvel ou na rua. É bem provável que não faça ideia se o ar que respira está bom ou não.
Temos o hábito de limpar superfícies, pisos e móveis dos ambientes, retirando a poeira grossa visível. Mas o que acontece com o ar desses locais? Será que basta higienizar superfícies? Veja, se o processo não for bem feito, jogamos partículas finas, invisíveis a olho nu, no ar que respiramos.
É o que acontece quando usamos vassouras ou espanadores. Mesmo o aspirador de pó só retém parcialmente essa sujeira mais fina capaz de se infiltrar no sistema respiratório. E isso se o aparelho contar com bons filtros de ar e eles forem limpos e trocados com frequência.
Se queremos respirar um ar mais saudável, livre de poluentes, também devemos ficar atentos a ele. Vamos a outros exemplos do dia a dia. Será que prestamos atenção à qualidade do ar de ambientes como a academia de ginástica ou a escola dos nossos filhos?
No primeiro caso, as trocas respiratórias são mais intensas devido ao esforço físico realizado. No segundo, as crianças ficam em salas fechadas por horas, necessitando de um espaço saudável que garanta o aporte adequado à atenção e ao desempenho. A concentração elevada de CO2, por exemplo, costuma levar a fadiga, sonolência, mal-estar e dores de cabeça.
Provavelmente, a qualidade do ar dentro desses lugares não está na prioridade dos gestores. E pelo simples motivo que os clientes não costumam checar nem exigir uma boa qualidade do ar interno. Mesmo os donos dos estabelecimentos nem sempre estão atentos a esse aspecto tão relevante para a segurança e a saúde de quem frequenta tais espaços.
Já está claro que a sociedade moderna não aprendeu a cuidar do ar que respira. Mas precisamos chamar atenção a esse tema, com o desafio de gerar conscientização sobre algo que não sentimos ou enxergamos. Além do controle de poluentes em geral, um primeiro passo é dar atenção a sistemas de climatização dos ambientes. Instalações e manutenção adequadas são fundamentais.
O Brasil possui legislações antigas, as quais exigem, desde 1998, que ambientes com ar-condicionado tenham um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC), com um responsável técnico, bem como laudos semestrais da qualidade do ar interno. O consumidor tem direito ao acesso a esses documentos.
Se isso virasse um hábito, as empresas e estabelecimentos certamente passariam a prestar mais atenção e a investir na melhoria do ar interno.
Um ponto em que todo mundo deve ficar de olho é se qualquer local fechado possui alguma ventilação que permita a entrada do ar atmosférico, a circulação e a renovação do ar interno. Pode ser ventilação natural ou mecânica, sendo essa mais indicada devido à capacidade de promover a troca com a insuflação de ar filtrado e controlado (no caso, os filtros retêm a poluição, ajudam a controlar a umidade e temperatura e nos protegem de ruídos e intempéries).
Outras medidas de higienização dos ambientes, com produtos e processos certificados, são necessárias. Recomendamos, por exemplo, aspiradores de pó com filtros do tipo HEPA, similares aos usados em hospitais e aeronaves, que já estão disponíveis no mercado com preços mais acessíveis.
O uso de purificadores de ar nos ambientes fechados também é um meio de proteção. Assim como purificamos nossa água, podemos purificar o ar. Muitos equipamentos já possuem filtros modernos ou são dotados de novas tecnologias, como a fotocatálise ou as lâmpadas UV-C.
Do mesmo modo que acontece com as edificações, devemos cuidar do ar que respiramos dentro dos automóveis e dos transportes públicos. O filtro de ar do veículo ou da cabine precisa ser trocado de tempos em tempos. Já checou como está o filtro do seu carro? Ele é o elemento que nos protege da poluição atmosférica.
Nesse contexto, também orientamos às pessoas que passam longo tempo dentro de um veículo que mantenham a renovação do ar externo com alguma frequência. Isso permite diluir e dispersar poluentes, gás carbônico e até mesmo micro-organismos.
E um último alerta, especialmente para a população que utiliza fogão à lenha para cozinhar. A fumaça residual dessa queima é muito prejudicial à saúde humana. Por isso, é necessário cozinhar em ambientes abertos ou bem ventilados. Se for dentro de casa, o fogão deve estar perto de janelas, conectado a uma chaminé ou a um exaustor mecânico. Também são bem-vindos ventiladores para ajudar a expulsar a fumaça do ambiente.
Tudo isso faz parte de uma questão de saúde pública. E deveria estar mais contemplado nas ações e políticas determinadas por nossos governantes. O custo de uma campanha de conscientização ou mesmo o fornecimento de sistemas de proteção do ar à população carente é muito inferior às despesas do Estado com doenças relacionadas.
As pessoas passam em torno de 90% do tempo de suas vidas em ambientes fechados. Cuidar do ar que respiramos é decisivo para ter uma vida segura e saudável. Pense nisso!
* Leonardo Cozac é engenheiro, fundador do Qualindoor ABRAVA e presidente do PNQAI – Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno; Marcelo Munhoz é presidente do Qualindoor ABRAVA
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