A qualidade do ar interior (QAI) tem recebido a atenção da imprensa ultimamente, o coronavírus obrigou a todos a ter um olhar diferente para um tema de extrema importância, mas será mesmo que o risco de morte pelo ar começou apenas agora em tempos de pandemia?
Um estudo feito em nosso país chamado “Saúde Brasil 2018” apontou que o crescimento de mortes causadas somente pela poluição do ar foram de 38.782 em 2006 para 44.228 em 2016. A maior incidência de casos está relacionada aos grandes centros urbanos e a Estados castigados pelas queimadas. Um aumento realmente alarmante, ainda mais se compararmos com o número de mortes da pandemia atual.
Somos afetados pela má qualidade do ar há anos em ambientes internos, e a população não estava se dando conta.
Apesar de termos diversas legislações e norma técnicas publicadas no Brasil, fiscalizações e inspeções sendo executadas ao longo de todos esses anos, mesmo assim, sabemos que nunca foi o ideal, a forma com que nos preocupamos realmente com o ar que respiramos.
Sabemos que nos dias de hoje, a maior parte do nosso dia passamos dentro de ambientes fechados, e quando estamos em um ambiente onde o ar não é tratado, os riscos de contrairmos infecções virais e bacterianas são bem maiores. O ar em um ambiente interno não tratado, é infinitamente pior que o ar externo respirados nas ruas por exemplo.
O ar-condicionado tipo Split representa mais de 90% das vendas no Brasil, utilizado largamente em ambientes não residenciais, porém para seu correto uso se faz necessárias adaptações como o uso de um sistema de filtragem eficiente e renovação de ar, que permitam ao ambiente não ter um ar saturado, porém, infelizmente boa parte destes equipamentos instalados não possuem uma renovação de ar correta.
A Resolução 09 de 16 de janeiro de 2003 da ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, recomenda o máximo de 1000 partes por milhão (ppm) de CO2 para ambientes internos, a ventilação inadequada faz com que CO2 e contaminantes do ar interior se acumulem em espaços ocupados.,fazendo com que os níveis de dióxido de carbono passem desse limite de forma muito rápida ocasionando assim reações diversas.
Sabemos que, muitas pessoas hoje em dia vivem seu cotidiano em um ambiente com ar extremamente saturado, e com consequência adicional da ventilação inadequada ocorre o acúmulo de outros contaminantes do ar interior, como os compostos orgânicos voláteis (encontrados em diversos produtos de construção e manutenção utilizados nas salas de aula, incluindo tapetes, vinil, tintas, selantes, plásticos, produtos de madeira, móveis, eletrônicos, agentes de limpeza e tantos outros), causando uma crescente incidência de condições de saúde crônicas, como asma, viroses, alergias e outras sensibilidades.
Este cenário é comum e resulta em diversos ambientes com instalações irregulares, fora das normas técnicas e legislações brasileiras, fazendo com que as pessoas adoeçam sem saberem o motivo.
Vejo a atual situação como quebra de paradigmas, a qualidade do ar interno no Brasil tomará outro rumo, a sociedade irá cobrar mais dos órgãos públicos e privados soluções que comprovem que um ambiente esteja saudável internamente e que as normas e leis sejam cumpridas.
Cabe a nós do setor respeitarmos as normas e leis vigentes, e aproveitarmos essa situação para fazermos uso das boas práticas da engenharia, com bom senso e respeitando a QAI!
Por Marcelo Munhoz
Presidente do Qualindoor – Departamento Nacional de Qualidade do Ar da ABRAVA
Diretor comercial Sicflux