Embora 2021 ainda tenha sido um ano muito difícil para a economia brasileira e para os trabalhadores, principalmente em função das novas variantes da Covid-19, o setor de refrigeração e ar condicionado caraterizado por sua essencialidade no período, permitiu constância e gradual retomada dos negócios nacionalmente para os setores representados
A cadeia produtiva do frio fechou o ano passado com R$ 36,35 bilhões de faturamento em vendas, ante R$ 32,88 bilhões registrados em 2020, números que evidenciam, em parte, a recuperação. A projeção para 2022 é atingir R$ 37,98 bilhões. Também em 2021, o setor produziu 3,371 milhões de splits residenciais, contra 3,039 milhões do ano anterior. Para 2022, a indústria deve fabricar 3,573 milhões de unidades. E tudo isto, com crise hídrica e sucessivos aumentos das tarifas de energia elétrica, GLP e combustíveis.
Este e outros números foram apresentados no último dia 27 de janeiro, durante o encontro ABRAVA de Portas Abertas – “Perspectivas e Planejamento 2022 para o Setor AVAC-R”, pelo economista Guilherme Moreira, Coordenador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da ABRAVA e por representantes dos Departamentos Nacionais de Ar Condicionado, Refrigeração e Comércio.
O debate em torno desses cenários contou ainda com Matheus Lemes, Diretor de Serviços da Trane e Presidente do Departamento Nacional de Ar Condicionado da Abrava; Marcos Almeida, Diretor de Vendas e Marketing da Emerson e Vice-presidente do Departamento Nacional de Refrigeração Comercial; e Toríbio Rolon, Gerente de desenvolvimento de Novos Negócios e Corporações, e Vice-presidente do Departamento Nacional de Comércio.
De acordo com Moreira, baseado em projeções da ABRAVA e em diversos indicadores divulgados, o aquecimento das importações de insumos e equipamentos do AVAC-R comprova que 2021 foi um ano de recuperação para o mercado do frio, atingindo 9,8% de expansão, contra um PIB de 4,6% (projeção do Banco Central), com perspectiva de 5,5% para 2022 e 5% para 2023.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal, comprovam esta realidade. No ano passado, o setor importou US$ 1,185 bilhão em compressores e bombas e ventiladores (+29,6%) ante US$ 914,4 milhões (2020); US$ 688,1 milhões (2021) em aparelhos de ar-condicionado (+21,7%) contra US$ 565,5 milhões (2020); e US$ 318,8 milhões (2021) em refrigeradores e congeladores (+30,9%) ante US$ 243,5 milhões (2020).
Da mesma forma, o forte crescimento das exportações de carnes refrigeradas e congeladas confirmou a boa fase do segmento de refrigeração. Segundo o levantamento, com dados da Secex, somente com carnes congeladas de bovinos, o país registrou crescimento de 25,2% em vendas em 2021 em comparação a 2020.
Este e outros números estão na pesquisa “Termômetro ABRAVA – – Resultados 2021 e Perspectivas 2022”, realizada com 75 empresas associadas nas duas primeiras semanas de janeiro deste ano, e apresentada no evento. De modo geral, os empreendedores estão otimistas com o que 2022 terá a oferecer ao mercado.
Para 47,14%, as condições gerais das empresas em relação a empregos melhoraram no segundo semestre de 2021 em comparação ao primeiro semestre do mesmo ano. Já 44,29% disseram que as condições permaneceram as mesmas. Número similar (45,17%) foi registrado em torno das condições gerais acerca de investimentos no mesmo período comparado. O Termômetro aborda ainda faturamento, que para 51,43% dos entrevistados melhorou, além de exportações e acesso a insumos e matérias-primas.
“A crise causada pela pandemia foi desigual, pois afetou mais famílias de baixa renda. No entanto, famílias de média e alta renda elevaram gastos, favorecendo especialmente os segmentos de Ar Condicionado e Refrigeração em 2021”, enfatiza o estudo, acrescentando que a “retomada das atividades de serviços favorece também o segmento de equipamentos de ar-condicionado de grande porte”.
Para este ano, segundo a pesquisa, 55,5% dos empresários do setor entrevistados estão otimistas ou muito otimistas com as exportações, enquanto 54,3% referiram-se ao faturamento. Em relação à retomada do emprego e dos investimentos, este estado ânimo tomou conta de 52,9% e 48,9% dos participantes, respectivamente.
“O ano de 2022 será difícil, com eleição e incertezas. Houve recuperação de empregos em 2021, mas perda de massa salarial. Com inflação elevada, vimos uma perda de renda e poder de compra, afinal os preços subiram”, cravou Moreira, enfatizando os bons resultados do setor da construção civil para imóveis de médio e alto padrão em 2021. “E continuará assim em 2022, uma boa notícia para a área de ar condicionado residencial e equipamentos centrais. Mas em 2023, deve haver uma desaceleração”, alertou.
Para o varejista Toríbio Rolon (Dufrio), VP do DN de Comércio da ABRAVA, os dados colhidos sobre o mercado em 2021 mostram que o Brasil não é para principiantes. “O comércio se adapta muito rápido. Enquanto a indústria consegue se planejar, o varejo é mais estratégico. Para as classes mais altas, o split e as instalações serão mais procurados, enquanto para as menos favorecidas, haverá maior demanda por manutenção de equipamentos, como trocas de compressor e filtros”, exemplificou.
Igualmente otimista, o representante da indústria, Matheus Lemes (Trane), Presidente do DN de Ar Condicionado, apontou que mesmo com alguns solavancos, o setor deve crescer mais modestamente em 2022, mesmo com a abertura de mais oportunidades, vide a alta na importação de insumos.
“Tal otimismo pode ser explicado porque a indústria talvez esteja alavancada por estoques, por causa da crise global da cadeia de suprimentos. Além disso, a crise hídrica já está levando a uma maior procura por produtos inverter, que tenham menor consumo de energia”, argumentou.
Segundo o gestor, o mercado tem provado uma digitalização da prestação de serviços, um tipo de “uberização”, já usado pelo comércio ao buscar prestadores de serviço, abrindo inclusive oportunidades para empresas de pequeno e médio porte e MEIs.
“Serviços corretivos e de reparos para escolas, que estavam paradas e agora retornam, e, portanto, irão precisar de manutenção de seus equipamentos, vão contribuir para o crescimento do setor neste ano”, apontou Lemes, mesmo com Copa do Mundo e eleições no segundo semestre.
Já Marcos Almeida, VP do DN de Refrigeração Comercial da ABRAVA, comentou que a refrigeração, por estar em todos os setores da economia, acaba sendo resiliente em momentos como este em que vivemos. “Além disso, há grandes movimentações regulatórias e tecnológicas, como os novos gases refrigerantes a exemplo do R290 e CO2, e isso tudo movimenta a cadeia produtiva”, salientou o representante da indústria de soluções de automação.
Mercado pujante
Aberto pelo Presidente da ABRAVA, engenheiro Arnaldo Basile, o evento foi transmitido diretamente do auditório da entidade, com poucas pessoas, em função das restrições sanitárias, e contou com a participação de parte dos convidados a distância.
Em sua apresentação, o dirigente falou do desempenho do setor em 2021 e de suas perspectivas para 2022, explicou aspectos sobre o funcionamento e objetivos da Associação, que celebra 60 anos de fundação, e reforçou ainda que o segmento de ar-condicionado é essencial para a segurança da qualidade do ar, pois ajuda a garantir as atividades econômicas e a manutenção da ordem econômica do Brasil.
Basile lembrou da pujança do AVAC-R brasileiro, que fatura cerca de R$ 40 bilhões por ano e emprega em torno de 300 mil pessoas direta e indiretamente, considerando toda a cadeia de valor – produção, distribuição, desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento comercial, consultivo e operacional, além de manutenção de sistemas e instalações.
O Presidente repassou a agenda de cursos e eventos do ano, que terá mais de 30 ações. Além disso, elencou algumas iniciativas que a ABRAVA promoveu em 2021, como a certificação de mais de 1.000 profissionais em seus treinamentos; o lançamento de nova logomarca; a apresentação da plataforma de Banco de Talentos e Oportunidades; a presença na COP 26, em Glasgow; e a publicação de uma cartilha sobre qualidade do ar de interiores, em parceria com a Regional da ABRAVA em Minas Gerais.
“Temos uma demanda reprimida, como apontou o Comitê de Eficiência Energética da ABRAVA, a partir da baixa penetração do ar-condicionado residencial, presente em aproximadamente 20% dos lares, algo entre 40 e 45 milhões de aparelhos em operação no Brasil, e muitos deles já entraram em uma fase em que ocorrem trocas por melhor tecnologia”, afirmou Basile.
Parceria
Na sequência, a analista de negócios do SEBRAE-SP, Ângela Faria, explicou as caraterísticas da entidade que representa e como ela faz diferença para o sucesso dos empreendedores, por conta do apoio que proporciona às micro e pequenas empresas.
Destacou ainda a parceria com a ABRAVA, com vistas à geração de novas oportunidades para o AVAC-R. O SEBRAE-SP dispõe de 33 escritórios Regionais no estado de São Paulo, seis deles na Capital; mais de 250 unidades do SEBRAE AQUI; 23 unidades do SEBRAE Móvel, além de uma central de atendimento 24 horas.
Normas Regulatórias
O engenheiro Paulo Américo Reis, Presidente do Comitê de Normas Regulatórias da ABRAVA e Secretário do SINDRATAR, apresentou a palestra “Status das NRs e o eSocial a partir de 3 de janeiro de 2022”, em que explicou a função e o alcance das Normas Regulamentadoras, como elas impactam nas empresas do setor, e alertou sobre a fiscalização pelos ministérios do Trabalho e da Previdência Social, além das respectivas superintendências.
Ele revelou que a ABRAVA está formulando uma apostila, dividida em seis capítulos, com orientações, esclarecimentos e dicas sobre como o mercado deve se comportar a partir de agora, em assuntos relativos a projeto, instalação, operação e manutenção e acerca das responsabilidades de empresas e profissionais.
O engenheiro confirmou também que a ABRAVA promoverá, em fevereiro, um webinar para abordar mais detalhadamente as NRs, afinal, “das 36 NRs existentes, 18 ainda estão em revisão. Mesmo assim, elas precisam ser atendidas”, ressaltou.
Paulo Américo lembrou que em janeiro deste ano passou a vigorar o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial) para as empresas do setor, em que consolida todas os processos trabalhistas, civis e criminais. Explicou mais detalhes desta ferramenta elaborada no intuito de integrar os dados gerados pelas empresas, referentes às obrigações acessórias trabalhistas, fiscais e previdenciárias.
“As empresas, de modo geral, terão de se adaptar, pois se houver uma fiscalização, podem ser multadas ou interditadas. Entretanto, também pode gerar oportunidades de negócios para o AVAC-R, uma vez que terão de prestar orientação aos seus clientes, sobre adequações em sistemas de climatização, mesmo para instalações mais antigas. E a ABRAVA pode atuar para orientar seu associado sobre a melhor forma de apresentar essas mudanças”, complementou.
O Encontro pode ser conferido no Youtube oficial da ABRAVA acesse AQUI , as apresentações estão disponíveis para download, acesse:
Econômica e Estatística AQUI Acesse
Institucional da ABRAVA AQUI Acesse
Alessandra Lopes – Momento Comunicação