A morte de duas famílias brasileiras em São Paulo e no Chile ao respirarem ar poluído por monóxido de carbono chocou o país no último mês. A perda é irreparável e o fato deve ser devidamente analisado para servir de aprendizado, minimizando assim riscos de novas tragédias virem a se repetir.
O primeiro fato relevante é que ambos acidentes aconteceram em ambiente interno, ou seja, as famílias estavam fechadas uma edificação. A maioria das pessoas ao falar em poluição do ar tratam o assunto em contexto de ambiente externo, onde intemperes atmosféricos como chuva e vento ajudam a dissipar os poluentes minimizando o problema, principalmente em um país tropical como o Brasil. Neste contexto, a questão da poluição do ar em ambiente externo é mais séria em áreas industriais e de alta concentração urbana como na cidade de São Paulo e principalmente nos meses mais secos. Segundo a Agência Americana de Meio-Ambiente (EPA) passamos quase todo nosso tempo (90%) em ambientes internos, onde os níveis de poluentes do ar são de 2 a 8 vezes mais elevados que em ambiente externo, o que pode afetar ainda mais a saúde, a performance física e o desempenho intelectual.
Mesmo um ambiente interno aparentemente saudável, pode estar poluído por micro-organismos, gases e partículas invisíveis a olho nu. Estes poluentes, quando em contato com a pele ou respirado, podem afetar seriamente a saúde humana. O monóxido de carbono é um deles, é inodoro e invisível, possui 200 vezes mais afinidade com a hemoglobina do que o oxigênio. Sua presença no ambiente interno em concentração mais elevada é transferida rapidamente para o sangue das pessoas. Consequentemente o transporte de oxigênio para os tecidos do corpo é reduzido levando o organismo à hipóxia, tipo de asfixia, o que causa inicialmente fadiga e evolui para distúrbios visuais, náusea, desorientação e o processo culmina na morte. O tempo que este processo leva depende da concentração do monóxido de carbono (CO) e do tempo de exposição a esta substância.
A tabela com dados da British Standards Institution (BSI) e International Organization for Standardization (ISO) aponta valores assumidos para a morte de indivíduos saudáveis em situação de atividade leve, quando expostos a diferentes níveis de concentração de CO. Indivíduos em atividades mais intensas e/ou com problemas cardíacos podem morrer quando submetidos a concentrações inferiores ou mais rapidamente.
No caso deste incidente, como exemplo, supomos que as famílias foram expostas a concentração de 8.000 ppm de CO no ambiente interno em que estavam, suas mortes devem ter ocorrido em cerca de 10 minutos de acordo com a referência provida pela BSI.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente 4,3 milhões pessoas morrem por doenças causadas pela poluição do ar em ambiente interior. Outros poluentes, mais comuns que o CO, presentes em produtos de limpeza, no gás combustível, em tintas, nos cosméticos, no mofo, na poeira e em outras fontes de poluentes, também afetam seriamente a saúde humana.
O trágico é que entre os primeiros sintomas e a morte, diferentemente do monóxido de carbono, passa-se por um longo, custoso e sofrido processo de tratamento da doença, que quando bem-sucedido, não coloca a pessoa afetada dentro desta estatística.
O infográfico a seguir dá uma noção da dimensão do problema, que já se tornou a quinta maior questão de saúde pública global, custando e causando sérios problemas a toda a sociedade.
Luciano Lamoglia Lopes, Diretor de Relações Institucionais do Qualindoor – Departamento de Qualidade de Ar Interior da ABRAVA e engenheiro na HONEYWELL BRASIL – Desenvolvimento de Novos Negócios .