Na data em que o mercado do frio celebrou o Dia do Refrigerista (7 de julho), a ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento, por meio do Departamento Nacional de Refrigeração Comercial e Industrial promoveu o webinar “Fluidos refrigerantes – melhores práticas e novas tecnologias”.
Mediado pelo Presidente do DN, engenheiro Renato Majarão, diretor regional para a América Latina da divisão de climate solutions da Danfoss, o evento teve por objetivo disseminar informações sobre as principais novidades do segmento de fluidos refrigerantes, como novas tecnologias, tendências e atualização de assuntos relacionados.
O webinar contou com a participação de outros cinco engenheiros – André Dorta, gerente comercial regional para América Central e do Sul na área de fluidos refrigerantes da Honeywell; Arthur Ngai, gerente de marketing da área de soluções térmicas e especialidades da Chemours; Carlos Alberto Barbur, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da AHT Brasil, empresa do grupo Daikin; Homero Cremm Busnello, diretor de marketing e relações institucionais da Tecumseh do Brasil e membro do DN de Refrigeração Comercial da ABRAVA; e Mauro Stacchini, gerente de vendas para área industrial da Bitzer Compressores.
“O tema deste evento é muito relevante no atual momento, porque o mundo está passando por várias mudanças relacionadas ao uso dos fluidos refrigerantes, incluindo a Europa e o continente americano. Todos os mercados estão adotando diferentes soluções para enfrentar os desafios, entre os quais o aquecimento global e a busca por eficiência energética”, afirmou Majarão, aproveitando para dar os parabéns aos refrigeristas pela data comemorativa.
No setor desde 1996, Arthur Ngai destacou que atualmente os fluidos refrigerantes e as questões regulatórias representam grandes desafios ambientais que acabaram impulsionando as transições da indústria em todo mundo, incluindo a diminuição das emissões de gases de efeito estufa. Ele também abordou detalhes da Emenda Kigali e do Protocolo de Montreal, que impactam todo o setor do frio.
De acordo com o cronograma de redução de consumo dos HFCs, o foco é atingir uma diminuição de 50% até 2040 e de 80% até 2045 em relação à linha de base. “Atualmente, estamos na fase da contabilização do consumo de HFC para a definição da linha base a ser adotada”, comentou o engenheiro, ao referir-se ao período entre 2020 e 2022.
“Trata-se de um esforço concentrado especificamente de um setor que pode, até 2100, reduzir a temperatura média da Terra em até 0,5ºC, se todos os países conseguirem cumprir as metas conforme os estudos sobre o impacto desta redução de consumo de HCFs”, argumentou.
O palestrante abordou ainda a evolução dos fluidos refrigerantes, entre o século 19 e os tempos atuais, projetando que até 2025 o Brasil deve registrar uma diminuição bastante significativa, para 35%, do nível de linha de base do R22.
“Entre os desafios do país estão o fato de ainda estar em transição de fluidos refrigerantes da geração anterior (HCFC); qualificação da mão de obra; investimentos e custos para mudança (novos ou sistemas existentes); normatização/padronização para novos fluidos refrigerantes, principalmente A2L; disponibilidade de componentes; e custos e disponibilidade do fluido refrigerante”, listou Ngai.
Na sequência, o engenheiro Carlos Alberto Barbur fez uma análise geral sobre o uso do propano (R290), cuja utilização em refrigeradores domésticos completou 30 anos em 2022 e se tornou uma alternativa cada vez mais presente em equipamentos comerciais. Segundo ele, há aproximadamente 600 milhões de unidades no mundo que utilizam R600a ou R290.
O palestrante abordou as vantagens e desvantagens da utilização do propano. Além de ser um fluido natural, tem ODP “zero”; GWP de 0.072 a 20 anos e de 0.02 a 100 anos; é considerado um gás de alta eficiência (com redução de 25%); e baixas quantidades de carga de gás na aplicação plug-in. As desvantagens: além de ser inflamável, é mais pesado do que o ar, podendo acumular-se principalmente próximo ao chão ou abaixo dele.
Limitado ao uso de no máximo 150 gramas em sistemas individuais, o R290 tem diversas aplicações, como ilhas de congelados e de resfriados, semiverticais, verticais congelados e resfriados. Pode ser usado desde lojas de conveniência, supermercados até grandes atacadistas.
“Após a implementação do gás propano, não houve ocorrências, pois os equipamentos se mostram seguros e duráveis; é uma solução competitiva, principalmente entre gases naturais; tem baixa manutenção e complexidade, portanto precisa de atenção para a sua inflamabilidade; uso de sistemas individualizados, 100% dependente na versão condicionador de ar e tempo reduzido de instalação; e a tendência é manter-se como um dos principais fluidos refrigerantes do mercado”, frisou.
O engenheiro Homero Cremm Busnello, da Tecumseh, reforça as qualidades do sistema de refrigeração com propano, que é projetado de modo que os componentes fiquem selados.
“Portanto, as partes móveis e os componentes elétricos, por exemplo, ficam todos confinados, sem uma fonte geradora de arco voltaico que possa provocar uma ignição caso haja vazamento. Além disso, a carga de fluido é menor, de poucos gramas, semelhante a um isqueiro. Sistemas maiores estão normalmente em espaços ventilados, portanto em segurança. Como indústria, nossa preocupação é que a equipe de campo tenha o treinamento adequado para este tipo de serviço”, complementou o executivo.
André Dorta, da Honeywell, concorda com os pontos de vista de seus colegas, de que uma das facilidades dos A2Ls é exatamente a não limitação de carga, em comparação com o propano e outros hidrocarbonetos. Segundo ele, seria o mesmo caso de alguns HFOs, em que é possível ter 600 quilos de A2L em um chiller.
“Hoje, no Brasil, não temos uma referência de legislação que imponha, por exemplo, um limite para o R32 em aplicação de ar-condicionado. Outros países têm o mesmo tipo de discussão, como Estados Unidos e Europa. Para produtos inflamáveis, há uma limitação bastante clara, mas para os A2Ls ainda é um tópico a se definir”, ressaltou.
Por fim, Mauro Stacchini, da Bitzer, argumentou que não existe solução única para os desafios impostos ao segmento de fluidos refrigerantes.
“Cada caso é um caso, cada instalação é uma instalação, assim como cada equipamento, que tem suas próprias características de projeto, como limite de operação em determinadas pressões. Tudo isso tem que ser levado em consideração pelo mercado”, argumentou.
A íntegra do webinar pode ser acessado no canal oficial da ABRAVA no YouTube.