Profissionais que atuam nos setores alimentício, químico, farmacêutico e agronegócio, por exemplo, contarão com uma série de novidades e experiências na 22ª edição da FEBRAVA, como a atração Ilha da Cadeia do Frio, focada em detalhar o funcionamento de equipamentos desses tipos de sistemas.

A área volta a ocupar o maior espaço no pavilhão do evento, aproximadamente 600 m². Para conferir o que está sendo preparado e também um panorama atual do setor, veja a entrevista com Eduardo Castello Branco Dória, engenheiro de alimentos e coordenador da ilha:

 

1. Como estará organizada a Ilha da Cadeia do Frio na edição 2023 da FEBRAVA? O que os profissionais de AVAC-R encontrarão como soluções nesta área da feira?

Eduardo Castello Branco Dória (ED) – A ilha estará organizada por empresas que representarão cada uma das etapas da Cadeia do Frio e, novamente, será o maior espaço da FEBRAVA demonstrando, em seus quase 600m2, todos os estágios da cadeia do agronegócio da proteína animal. Nesta edição, os profissionais também encontrarão 6 equipamentos e sistemas em funcionamento, uma tradição da Ilha.

 

2. A cadeia do frio atende setores como o de alimentos, farmacêuticos, químicos e também o agronegócio. Quais outras áreas contam com equipamentos e soluções que trabalham com baixas temperaturas?

ED – Além dos segmentos acima citados e dos tradicionais – e ainda incipientes – hortifrutis, estão surgindo aplicações inovadoras específicas dentro do agronegócio. Isso despertará o senso de empoderamento nos produtores em geral, pois muitos que trabalham com frutas, verduras e legumes (FLV) são reféns dos compradores, em função da falta de câmaras frias para armazenarem seus produtos e poderem negociar o dia da venda, onde terão um melhor preço. Fora as perdas e desperdícios de FLV mundiais, em que o Brasil contribui negativamente.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda um consumo mínimo médio de 400 gramas/dia/pessoa de FLV para que se tenha uma dieta saudável. Dados demonstram que estamos a dois terços desta meta (267 gramas/dia/pessoa). Em contrapartida, o relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) de 2011, apontou já na época que, mundialmente, eram perdidas e desperdiçadas 332 gramas por dia por pessoa. Aqui os números falam por si só.

Voltando às aplicações, o controle psicrométrico (temperatura e umidade relativa simultaneamente) no armazenamento dos grãos secos é uma das novidades para o agronegócio. A pressão por redução das perdas durante o armazenamento, ou a necessidade de aumento da produtividade na produção de proteína animal, ou as métricas do ESG, impulsionará o uso no campo dessa tecnologia inovadora, autônoma e inteligente, pois irá impactar positivamente a taxa de conversão proteica.

 

3. E entre o público, quais profissionais costumam visitar a ilha com maior frequência?

ED – O maior grupo de visitantes, 60%, aproximadamente, é constituído por engenheiros, empresários e técnicos em refrigeração, pois este é o networking dos nossos expositores.

O segundo grupo, que compreende 30%, é formado por estudantes, profissionais ligados ao varejo e frotistas, afinal a ilha é tradicional em expor fabricantes do setor de refrigeração para transporte. Sempre temos também importantes representantes da academia e, neste ano, contaremos com as presenças da FEA – Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, da FCA – Faculdade de Engenharia Agrícola – UFGD / MS e da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC) Franco da Rocha / SP.

E os consumidores finais representam 10% da totalidade dos nossos visitantes.

 

4. O agronegócio tem estado em evidência nos últimos anos. Quais soluções da Cadeia do Frio atendem o setor? E de que forma?

 

ED – Além do controle psicrométrico, outra novidade que o visitante encontrará na ilha da Cadeia do Frio é uma tecnologia recém-desenvolvida para nosso rico e tradicional mercado cafeeiro. Trata-se de um processo combinado de secagem lenta e armazenamento em baixa temperatura (abaixo de 15ºC) de cafés especiais utilizando uma câmara fria em condições específicas para o café em fruto vindo diretamente da lavoura.

Assim, há uma oportunidade para aumentar o valor do produto em função do aumento da qualidade da bebida, através do emprego de um processo de secagem e conservação mais adequado, eficiente e de baixa intensidade energética.

 

5. Vacinas também têm sido um assunto em evidência nos últimos anos. Qual a importância das soluções da cadeia do frio para a produção, logística e conservação de medicamentos?

ED – Vacinas precisam de equipamentos com uma boa acuidade, pois não podem ser submetidos a temperaturas negativas, isso poderá causar a perda das suas propriedades farmacodinâmicas, portanto, o respeito às faixas corretas de temperatura é mandatório.

Entretanto, não se pode estabelecer uma condição padrão para todas as vacinas. Cada fabricante irá avaliar e determinar o perfil de estabilidade do seu produto. Os cuidados de conservação estão descritos e são aprovados no registro do medicamento, conforme indica a agência reguladora.

Em geral, esses cuidados incluem manter a temperatura na faixa específica estipulada ao medicamento, proteger da luz e não congelar. Para vacinas, a temperatura de controle deve estar entre 2°C e 8°C.

 

6. Considerando um dos equipamentos que mais costumam atrair a atenção dos visitantes, as câmaras frias, o que tem surgido de novidade neste período de três anos que separam a edição mais recente do evento para a que acontecerá neste ano?

 

ED – Sobre as tendências para o mercado de câmaras frigoríficas, podemos citar algumas como: a modularidade das construções, portas com mola hidráulica, para fechamento automático; isopaineis fabricados em PUR (poliuretano) com sistemas de engate e travamento, o que permite uma melhor construção estanque; sistemas para controlar o degelo de forma inteligente e com o mínimo de geração de carga térmica adicional; serviço de manutenção preventiva, com monitoramento à distância dos sistemas frigoríficos, para um atendimento emergencial mais rápido, montagens dos isopaineis usando cantoneiras em peça única; e construções energeticamente eficientes, visando aumentar a barreira termodinâmica holística, sem ter que ampliar a espessura do isolamento das paredes.

E para câmaras com rodinhas, as carrocerias frigoríficas, existem soluções termodinamicamente mais eficientes e mais inteligentes, onde o calor e a umidade no ato das aberturas de porta nas entregas são minimizados.

 

7.  O que os visitantes mais têm interesse em conhecer quando o assunto é câmara fria? E por que o tema costuma chamar tanto a atenção do público?

 

ED – As câmaras frias na nossa ilha da Cadeia do Frio, assim como os caminhões frigoríficos, serão expostos em funcionamento. Entrar num ambiente com temperaturas a -18⁰C é uma experiência única e inédita para muitos.

Já os técnicos poderão observar algumas características construtivas em operação, como os sistemas de abertura e travamento das portas, a “fuga de frio” pelas vedações. Será possível verificar o acúmulo de gelo nos evaporadores, o fluxo de ar frio, a flecha do ar insuflado, assim como sentir com as próprias mãos as temperaturas operacionais do compressor e do condensador. No sentido figurado, para o visitante é a chance de ter a sensação de entrar numa geladeira gigante.

 

8. Como o mercado nacional tem sido reconhecido em termos de desenvolvimento e comercialização de produtos que integram a cadeia do frio?

ED – Existem dados muito bons de um relatório da Global Cold Chain Aliance (GCCA), com indicadores de tamanho relativo das cadeias do frio dos países (habitantes/m³). Temos volumes de estocagem frigorífica em (m³) de diversos locais e o total do planeta, que em 2020 era de 719 milhões de metros cúbicos.

Como a cadeia do frio é um “organismo”, o crescimento de uma etapa implicará no crescimento das demais, consequentemente. O timing poderá variar um pouco, mas acontecerá para que a cadeia do frio atinja o equilíbrio.

Portanto, quanto menor for este indicador, melhor será a cadeia do frio do local, como é possível observar nos dados de 2020, organizados em local e habitantes/m³ com resultados como: Mundo,10,9; Brasil, 11,0; China, 10,8; EUA, 2,1; Índia, 9,3; México, 9,0; Japão, 3,2.

O Brasil, em 2020, possuía 19,447 milhões de m3 de estocagem frigorificada, enquanto que o mundo possuía 719 milhões m³, o que equivale a 2,7% do total mundial, coerente com os 2,73% da nossa representatividade no total da população mundial.

A Cadeia do Frio brasileira tem crescido sistematicamente desde 1972 a um percentual médio de 9,6%, enquanto o mundo cresceu 7,3% no mesmo período. Se fizermos uma análise de um período mais recente, de 2008 a 2020, tivemos 13,0% contra 9,3% do mundo.

O volume mundial de estocagem frigorífica em (m³) já está em 881,5 milhões m³, crescendo 22,6% em 3 anos, ainda não apurei os valores para o Brasil, portanto tais dados só corroboram a tendência sólida e consistente de crescimento continuado da Cadeia do Frio no mundo, e o Brasil está surfando essa onda.

 

9. A FEBRAVA conta com o Dia do Treinamento na programação. Haverá algum direcionado para equipamentos da Cadeia do Frio?

ED – Não teremos treinamentos formais na nossa ilha, mas muitos expositores utilizam a TV individual que disponibilizamos para transmitir alguns conceitos e conhecimentos.

Sem contar que a água, que é fundamental no processo produtivo, ganhará um papel de destaque nesta edição da FEBRAVA, indicando como ela está presente e qual a sua importância, quando consideramos ambientes e equipamentos que trabalham com temperaturas baixas.

Os condensadores a água, por exemplo, têm ganhado força, principalmente para pequenos supermercados do conceito “express”, pois concentram todo o calor rejeitado fora do salão. Esse conceito de projeto é muito eficiente energeticamente, pois, normalmente, esses locais são climatizados e ter uma unidade condensadora central externa é o correto.

 

10.Quais são as perspectivas para edição 2023 da FEBRAVA? E para o mercado da cadeia do frio após o evento?

ED  As perspectivas são ótimas, planejamos 3 cenários e acreditávamos que chegaríamos perto do realista, porém, atualmente, a ilha da Cadeia do Frio vive um cenário além do otimista.

É um espaço diferenciado, onde os visitantes têm a oportunidade de vivenciar o conhecimento técnico na prática ao tomar contato com equipamentos de última geração em funcionamento e conhecer alguns renomados profissionais, pesquisadores e inventores do setor.

Muitos dos nossos expositores trazem novidades e lançamentos e, neste ano, esta tradição será mantida.

Vale ressaltar que os expositores da ilha estão sempre sendo visitados, os contatos profissionais são intensos, pois os convidados das empresas e o público, no geral, circulam por todo o espaço, o que lhes garantem um fluxo contínuo de visitantes qualificados a qualquer hora do dia, todos os dias da feira.

O nosso ambiente, por si, já é um local tradicional de muitos contatos. Em 2019, batemos nosso recorde de visitação e as conexões acontecem até mesmo entre os próprios expositores, o que propicia negócios continuados após o evento.

Nossa ilha já se tornou um espaço de credibilidade consagrada dentro da FEBRAVA, somos uma “atracagem obrigatória”, fruto do apoio da ABRAVA, em parceria com a RX, e do trabalho de duas décadas dos seus idealizadores, nosso saudoso Nelson Baptista e o querido Prof. Dr. Lincoln de Camargo Neves Filho, já aposentado. Até lá!

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