Projeto e manutenção são fundamentais para garantir a qualidade do ar interno e a salubridade dos edifícios

 

Provocada por excesso de umidade, falta de ventilação e presença de substâncias tóxicas, a má qualidade do ar interno compromete a salubridade nos ambientes e pode levar, em casos extremos, à síndrome dos edifícios doentes. Trata-se de um conjunto de doenças respiratórias reconhecido pela Organização Mundial de Saúde e que provoca dores de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza em ao menos 20% dos ocupantes de um edifício.

Tema de estudos desde a década de 1980, a síndrome ganhou ênfase depois que uma bactéria (legionella pneumophila) levou à morte 34 pessoas que trabalhavam em um mesmo escritório na Filadélfia, nos Estados Unidos.

RENOVAÇÃO DO AR

O momento mais propício para evitar que os edifícios adoeçam é durante a elaboração do projeto e a escolha dos sistemas de climatização. “Para garantir boa qualidade do ar interno são fundamentais a previsão de pontos de acesso para instalação e manutenção dos climatizadores, salas de máquinas bem equipadas com espaço suficientes, iluminação, pontos de água e energia, além de filtros adequados em acordo com os ambientes”, cita o engenheiro Arnaldo Parra, vice-presidente de marketing da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado e Ventilação (Abrava).

A falta de tomada de ar externo ocasiona índices elevados de CO2 e a concentração de agentes microbiológicos no ar recirculado, o que é totalmente indesejável

Arnaldo Parra

Segundo ele, falhas de construção e de manutenção estão diretamente ligadas com a falta de renovação de ar dos ambientes e com a alta concentração de poluentes nos recintos. “A falta de tomada de ar externo ocasiona índices elevados de CO2 e a concentração de agentes microbiológicos no ar recirculado, o que é totalmente indesejável”, ressalta Parra.

Para proporcionar as melhores condições de saúde, o projeto de climatização deve garantir filtragem de ar adequada à ocupação, renovação de ar proporcional ao ambiente e à ocupação, a adoção de sistemas de limpeza ativa e o controle de temperatura e umidade. Além disso, é imprescindível o atendimento às legislações e normas técnicas vigentes, como a ABNT NBR 16.401-2008 — Instalações de ar condicionado, atualmente em revisão.

“O projeto pode incorporar, também, equipamentos com filtragem fina classe F7 padrão ABNT, dispositivos de filtragem fotocatalítica ou ionizante, e sistemas automatizados capazes de controle de umidade”, cita Rafael Dutra, coordenador de engenharia de aplicação da Trane.

Outra ação recomendada para evitar a síndrome do edifício doente é o controle da quantidade de compostos orgânicos voláteis e de umidade nos ambientes. Os COVs — formaldeído, benzeno, xileno, tolueno, entre outras substâncias — estão presentes em uma série de materiais de construção, como adesivos, selantes e tintas à base de solventes. Com relação à umidade, se o ambiente apresentar percentual acima de 45%, ele já começa a desenvolver mofo e é considerado insalubre.

MANUTENÇÃO DE AR CONDICIONADO

Um sistema de condicionamento de ar bem conservado é igualmente decisivo para garantir a qualidade do ar nos ambientes internos. Do ponto de vista da manutenção, a falha na substituição ou na limpeza dos filtros de ar é um dos pontos mais críticos em ambientes climatizados.

“Filtros saturados acabam ocasionando colapso em sua estrutura, disseminando os poluentes que se desejava remover”, explica Parra, ressaltando ser imprescindível atenção total às atividades do Plano de Manutenção Operação e Controle para Ar Condicionado (PMOC) para assegurar a melhor qualidade do ar nos interiores.

“Não é incomum casos em que um PMOC bem executado evitaria o desenvolvimento da síndrome do edifício doente”, acrescenta Dutra. De acordo com ele, “também é importante que os procedimentos de limpeza da edificação sejam cuidadosamente planejados para minimizar a emissão de particulados ou a concentração de umidade em níveis elevados”.

COMO IDENTIFICAR?

A síndrome do edifício doente pode ser diagnosticada após uma avaliação da qualidade do ar interno (QAI), em conformidade com as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Durante essa análise, conduzida por laboratórios especializados, são observados a quantidade de contaminantes, de unidades formadoras de colônias de fungos e o índice de aerodispersoides, além de parâmetros físicos de temperatura, umidade e velocidade.

Um indicador de que há problemas com a qualidade do ar em um edifício são as reclamações recorrentes dos usuários com sintomas associados à síndrome. “Isso acontece especialmente quando a fonte do mal-estar não é bem definida e ele é amenizado após a saída da edificação”, finaliza o engenheiro da Trane.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Arnaldo Lopes Parra — Engenheiro mecânico e de refrigeração e ar condicionado, é diretor na Pósitron Engenharia e vice-presidente de marketing da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado e Ventilação (Abrava).
Rafael Dutra — Engenheiro mecânico, é coordenador de Engenharia de Aplicação da Trane.

Leia a matéria direto na fonte AQUI