Praticamente a um ano da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), o tema eficiência energética no setor AVACR esteve mais uma vez na pauta. No último dia 11 de outubro, aconteceu o “Bate-papo com Entidades Internacionais”, realizado em São Paulo pela ABRAVA e pelo SINDRATAR-SP.

Promovido em formato híbrido, o evento contou com as participações de Colin Taylor, gerente sênior para o clima do CLASP (Collaborative Labeling and Appliance Standards Program, ou Programa Colaborativo de Etiquetagem e Padrões de Eletrodomésticos), e Rodolfo Dourado Maia Gomes, diretor-executivo da International Energy Iniciative (IEI) Brasil. A moderação ficou a cargo da pesquisadora Suely Machado Carvalho, Senior Expert no Painel de Avaliação Tecnológica e Econômica do Protocolo de Montreal, no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, convidada especialmente para a ocasião, feita de forma online.

A abertura do evento foi realizada pelo presidente-executivo da ABRAVA, Arnaldo Basile, que falou a respeito da importância de tratar o tema da eficiência energética no setor AVACR. “A realização desse bate-papo nos levou a conclusão de que, o setor tem condições de elaborar um Plano Nacional de Refrigeração e Climatização de Ambientes, e assumir o protagonismo acerca do tema eficiência energética. A importância do Setor AVACR na Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, políticas da neoindustrialização, e um novo posicionamento político, diplomático e potencial comercial do Brasil no mercado AVACR Internacional permeiam os próximos passos”. Conclui Basile, após realização do evento.

Na programação, os dois palestrantes apresentaram suas respectivas entidades, explicando os objetivos e alcance de cada uma delas. Enquanto a CLASP se dedica a estimular a redução das emissões de carbono, diminuir os custos operacionais e reduzir tanto a demanda quanto o custo da oferta de energia, a IEI, fundada há mais de três décadas, advoga pela transição energética como instrumento para um mundo sustentável.

No Brasil, a CLASP desenvolveu, ao longo dos anos, projetos de etiquetagem para ares-condicionados e refrigeradores, além de sempre apoiar o Inmetro e o Procel para definir os critérios para etiquetagem. A previsão é que em 2025 a organização abra por aqui seu primeiro escritório.

Colin Taylor apresentou alguns dados para reflexão de todos, cerca de 1,7 bilhão de pessoas no mundo não têm refrigerador, enquanto 1,2 bilhão de habitantes não têm acesso a um ventilador ou aparelho de ar-condicionado. “As ondas de calor, provocaram 489 mil mortes por ano, entre 2000 e 2019, em todo o mundo. Por isso, a climatização virou caso de sobrevivência” destacou.

Além de detalhar as operações da IEI Brasil, o diretor Rodolfo Dourado trouxe, em sua apresentação, informações sobre a Emenda de Kigali e o Protocolo de Montreal e oportunidades estratégicas para o país e o setor de AVACR.

De acordo com ele, a Emenda exige uma redução progressiva de 80% (CO2 equivalente) nos próximos 30 anos na produção e consumo de 18 HFCs de alto potencial de efeito estufa. “Estimativas sugerem que emissões evitadas até 2100 podem chegar a 420 gigatoneladas de CO2 equivalente, evitando até 0,4ºC até o final do século”, explicou.

Diálogo entre as partes

Após as apresentações e posicionamentos das entidades convidadas, aconteceu o bate-papo, momento em que os palestrantes responderam perguntas do público, presente e online, com base nos temas destacados no evento.

Entre as questões apresentadas, a preocupação com a climatização de data centers, se considerado o impacto, em termos energéticos, de sistemas de ar-condicionado nestes ambientes, e como se dá a possível redução de consumo de energia nesses ambientes

Colin respondeu que há uma crescente demanda por climatização em data centers. “Nos anos que virão, isso vai aumentar. Esta é uma preocupação em muitos países, e cada qual conta com abordagens distintas. É importante haver normas e etiquetas para os aparelhos condicionadores de ar comercial, que proveem a climatização para os data centers”, disse.

O representante da CLASP lembrou que a China, por exemplo, está preparando a adoção de índices mínimos para data centers, de modo a limitar o consumo de energia desses locais na totalidade. “Talvez no Brasil não seja possível implementar normas mínimas para data centers, mas algo equivalente ao Selo PROCEL”, completou.

Rodolfo Dourado, destacou que a IEI, publicou um trabalho sobre data centers no Brasil para o Ministério de Minas e Energia, com apoio da GIZ, entidade alemã especializada em projetos de cooperação técnicos e de desenvolvimento sustentável em escala mundial. “Existem grandes oportunidades que o Brasil pode aproveitar”, disse.

Arnaldo Basile complementou a discussão lembrando que a mineração de criptomoedas, que também consome muita energia elétrica, já entrou no radar das entidades.

Planos de ação

O gerente-geral do SINDRATAR-SP, Marcelo Mesquita, questionou o representante do IEI sobre os recursos financeiros necessários para que o “Cooling Action Plan“, ou Plano de Ação para Resfriamento, da Indonésia e Índia tivessem maior amplitude.

O palestrante salientou que tanto na Indonésia, quanto na Índia, há recursos nacionais e privados e provenientes de acordos internacionais, como os relativos ao Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal.

Segundo Rodolfo Dourado, o Brasil tem oportunidades significativas para acessar recursos financeiros como o Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal, para projetos de eficiência energética e redução de emissões. A coordenação desses recursos, no país, é feita pelo Ministério do Meio Ambiente, com foco no cumprimento das metas da Emenda de Kigali.

“No caso da implementação de um plano nacional eficiente, isto requer colaboração entre vários ministérios, incluindo o do Meio Ambiente, o de Minas e Energia e o do Comércio e Indústria. O Brasil possui uma cadeia produtiva avançada e eficiente, especialmente na fabricação de aparelhos de ar-condicionado, mas enfrenta desafios para exportar produtos devido a barreiras regulatórias e de eficiência”. Finalizou.

Suely Carvalho, relembrou que a ABRAVA, o Setor AVACR e a Sociedade podem fazer uso dos recursos do fundo multilateral, mediante apresentação de um plano,  de acordo com os critérios para que possam ser avaliadas nesta fase de melhoria de eficiência energética e transição do uso de fluidos refrigerantes.

Por fim ,Suely concluiu que o setor tem muitos temas a serem discutidos, e que não apenas os consumidores finais devem ser conscientizados, mas as empresas também, visto que muitas não atendem aos padrões de recolhimento e descarte de gás, embora propaguem que seguem as práticas ESG, o que não ocorre na prática.

Eficiência energética

Existem esforços para melhorar a eficiência energética dos aparelhos eletroeletrônicos, mas há obstáculos, como a necessidade de atualização das normas de eficiência e o aumento da capacidade administrativa.

“Os aparelhos de ares-condicionados produzidos atualmente no Brasil são muito mais eficientes do que os produtos da Índia e Indonésia. Comparativamente, até o momento, a maioria das geladeiras produzidas no Brasil não podem ser exportadas para países da América Latina, África”. frisou Colin.

Entre os principais gargalos brasileiros apontados pelos palestrantes estão as dificuldades para melhoria da eficiência energética dos equipamentos. No caso do equipamento de ar-condicionado de uso residencial, o Brasil tem avançado muito.

Perguntado sobre a existência no Brasil, de algum esforço para elevar os níveis mínimos de temperatura para refrigeração de ambientes, que atualmente é de 18ºC, Colin informou que na Índia há uma política segundo a qual todos os aparelhos de ar-condicionado, quando ligados, automaticamente iniciam sua operação com o termostato em 24ºC.

Arnaldo Basile lembrou que a ABRAVA, gestora do CB-055, já debateu normas relacionadas que estipulam, para os ambientes, quais são as temperaturas mínimas para inverno e verão, de modo a reduzir o consumo de energia e buscar uma eficiência melhor dos equipamentos e sistemas. Principalmente quando se fala em automação.

 

Bombas de calor       

A introdução de bombas de calor é vista como uma oportunidade significativa para substituir caldeiras a gás, reduzindo assim, as emissões de gases de efeito estufa.

Os palestrantes concordaram que o Brasil tem um setor industrial robusto, mas precisa de um plano de política industrial prioritário que considere a eficiência energética como um elemento central. Isso incluem, também, campanhas educativas e conscientização do consumidor.

Em um comentário adicional, Arnaldo Basile lembrou que a ABRAVA criou, há dois meses, o GT Emenda Kigali, com o objetivo de acompanhar todas as questões relacionadas a este importante documento internacional.

Edilaine Camilo, advisor para o Programa da CLASP no Brasil, expôs aos convidados uma série de questões, desde a política para o desenvolvimento industrial e transição energética, até Emenda Kigali, plano de ação “cooling“, descarbonização, neoindustrialização e economia circular. “O ar-condicionado, como já foi colocado, vai ser questão de sobrevivência”, assegurou.

Colin acredita que as bombas de calor têm forte potencial para diversas aplicações, especialmente na indústria, podendo ser usada em caldeiras a gás para gerar vapor a uma temperatura mais alta. “Na China, já há bombas de calor que podem prover vapor até 150ºC”, exemplificou.

Diversos assuntos foram abordados acerca do tema central durante todo o evento, o bate-papo pode ser conferido na integra no canal oficial do youtube da ABRAVA ACESSE

Estiveram presencialmente na sede da ABRAVA representantes da diretoria da  associação, da ASBRAV, SMACNA, empresas associadas e convidados.