Volta às aulas: Qualidade do ar nas escolas impacta aprendizado e saúde de alunos

Com a retomada das aulas e o aumento das temperaturas, a qualidade do ar dentro das salas de aula volta a ser um tema crucial para alunos, educadores e pais. Estudos mostram que um ambiente com ventilação inadequada pode comprometer o desempenho escolar e a produtividade, além de aumentar a incidência de doenças respiratórias.

O Departamento de Qualidade do Ar Interno (Qualindoor) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) alerta que a baixa renovação do ar interno impacta diretamente a capacidade cognitiva de alunos e professores. Considerando que um adulto respira, em média, 10 mil litros de ar por dia e passa cerca de 90% do tempo em locais fechados, é essencial garantir que a qualidade do ar interno esteja em conformidade, e não prejudique a saúde e a produtividade das pessoas.

Segundo uma pesquisa da Universidade Técnica da Dinamarca, estudantes expostos a ambientes bem ventilados apresentam um ganho de performance de até 14,5%, o que significa que podem aprender em seis anos o que levariam sete para assimilar em locais com baixa qualidade do ar.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 9 em cada 10 pessoas respiram níveis elevados de poluentes, um fator agravante em períodos seco e calor intenso, comuns no Brasil nesta época do ano. A falta de ventilação adequada faz com que a concentração de dióxido de carbono (CO²) em salas de aula ultrapasse os limites recomendados, prejudicando a concentração e facilitando a propagação de doenças respiratórias, como gripes, alergias, entre outras patologias.

Para Arthur Aikawa, presidente do Qualindoor “A qualidade do ar interno impacta a saúde de todos a curto, médio e longo prazo. Ambientes de ensino são especialmente críticos pelo nível de adensamento de pessoas. A curto prazo, impacta a capacidade cognitiva e de concentração. A médio prazo implica em surtos de doenças respiratórias e, a longo prazo, pode agravar ou até mesmo gerar uma doença crônica”

Ar-condicionado e ventilação são aliados, mas exigem cuidados

Muitas escolas utilizam aparelhos de ar-condicionado do tipo split, que garantem conforto térmico, mas podem comprometer a qualidade do ar se não forem combinados com sistemas de filtragem e renovação adequados. “A maioria dos equipamentos instalados em escolas brasileiras não possui filtragem eficiente nem renovação de ar, o que pode gerar ambientes saturados e aumentar a disseminação de vírus e bactérias”, explica o engenheiro Leonardo Cozac, membro do Qualindoor.

Diante desse cenário, no qual muitos ambientes escolares estão fora dos padrões mínimos indicados, especialistas da ABRAVA recomendam que as escolas adotem sistemas de renovação mecânica do ar, que filtram partículas e mantêm os níveis adequados de CO²..

Qualquer sala de aula, climatizada ou não, deve ser bem ventilada para garantir a renovação do ar interno. Em períodos de clima extremo ou quando o ar atmosférico está poluído, como em épocas de seca e queimadas, a ventilação natural pode ser comprometida.

Durante períodos de temperaturas muito altas ou baixas, portas e janelas são frequentemente fechadas, o que impede a circulação do ar e leva à estagnação do ambiente interno. Por isso, recomenda-se a instalação de sistemas de ventilação em salas de aula, independentemente de serem climatizadas ou não.

Sistemas de renovação de ar mecânica com filtros eficientes são soluções indicadas para a melhoria da qualidade do ar. A ABRAVA recomenda a contratação de profissionais e empresas habilitadas para todas as etapas a partir da decisão de climatização mecânicas para quaisquer tipos de ambientes. Um bom projeto, aliado à instalação e à manutenção adequada dos sistemas de climatização, é essencial para manter a temperatura, umidade relativa, velocidade e pureza do ar em níveis adequados.

 

Pais devem cobrar medidas das escolas

Apesar das normas e legislações que regulamentam a qualidade do ar interno, muitas escolas ainda não seguem as diretrizes adequadas. A Lei Federal 13.589/18, a NBR 17.037, a Portaria 3.523/98 e outras normas regulamentadoras estabelecem padrões a serem seguidos nos ambientes escolares para garantir a saúde e o bem-estar de alunos e professores.

Assim como cobram infraestrutura adequada, alimentação saudável e segurança, os pais também devem questionar as escolas sobre as condições do ar interno e as medidas adotadas para garantir um ambiente saudável. “Não é normal que crianças voltem para casa diariamente com sintomas de viroses e alergias. Isso pode estar diretamente ligado à má qualidade do ar na escola”, alerta Cozac.

Investimento necessário para o futuro das crianças

A qualidade do ar interno não é apenas uma questão de saúde, mas também de desempenho acadêmico e bem-estar. Pequenos ajustes nos sistemas de ventilação podem trazer grandes benefícios, reduzindo o absenteísmo escolar e melhorando a aprendizagem.

A pandemia da COVID-19 evidenciou a necessidade de ambientes mais saudáveis, e essa preocupação deve continuar. Escolas, autoridades e famílias precisam trabalhar juntas para garantir que as crianças respirem ar limpo e seguro, essencial para um futuro mais saudável e produtivo.