Quando pensamos em qualidade do ar em ambientes interiores climatizados, um dos primeiros itens que lembramos é o sistema de ar condicionado. É comum ver reportagens de televisão relacionando problemas de saúde da população com esses equipamentos com manutenção deficiente. Usuários reclamando que ambientes refrigerados fazem mal a saúde. E até profissionais do setor HVAC só atuam nos equipamentos de climatização a qualquer percepção de piora na qualidade do ar.

Acontece que nem sempre a fonte de contaminação está no sistema de condicionamento do ar.

É de conhecimento da comunidade de QAI que outras fontes como mobiliário, carpetes, tintas, plantas, fotocopiadoras, papéis, o ar externo e principalmente as próprias pessoas são possíveis causas de proliferação e dispersão de elementos químicos, físicos e biológicos em ambientes internos.

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No passado participei de um projeto de consultoria em um órgão público municipal, na cidade de São Paulo, onde havia reclamação de fortes odores em uma determinada sala, onde pessoas haviam passado mal, incluindo afastamento do trabalho. Chegando ao local, o administrador do edifício informou prontamente que já havia feito a limpeza do sistema de ar condicionado, porem o problema não havia sido resolvido. Após inspeção do local e algumas perguntas ao usuário da sala, identificamos o odor vindo de uma parede recém pintada com tinta vencida, resto de uma obra antiga no prédio.

Outro dia, ouvi de um renomado médico que a Legionella era “a bactéria do ar condicionado”! Esse microrganismo se desenvolve em água e só transmitida aos seres humanos através de vapor de água. Onde temos isso em sistemas de ar condicionado? Na bandeja de condensação? Não vejo todo esse arraste de aerossol passando por serpentinas, ventiladores, rede de dutos e chegar na zona de respiração das pessoas. Improvável! Nas torres de resfriamento? Esse sim é um local em potencial. Porem está fora da edificação e não o equipamento não tem ação direta na qualidade do ar dentro do ambiente. Se atender a ABNT NBR 16401, a pelo menos 10 metros da tomada de ar externo, os riscos de contaminação ao ar interno são reduzidos.

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Muito mais provável achar essa bactéria em fontes decorativas, spas ou chuveiros dentro de edifícios. Mais uma vez, o ar condicionado nada tem a ver com isso.

Conto esses casos, entre tantos outros existentes, para mostrar que o sistema de ar condicionado nem sempre é a fonte de contaminação da qualidade do ar de interiores.

E por causa disso, para lidar com essa variedade de situações, a ciência da Q.A.I. requer muitas vezes um conjunto de habilidades e informações que não se encontra em apenas um profissional de carreira acadêmica tradicional. Muitos casos devem ser tratados por equipes multidisciplinares como Engenheiros Mecânicos, Civil, Químicos, Segurança do Trabalho, Médicos, Biomédicos, Biólogos, entre outros

Os administradores prediais e facilities managers normalmente questionam ao responsável técnico pelo sistema de ar condicionado o que fazer no sistema de ar condicionado quando o resultado de fungos no está acima dos limites da Resolução 09 da ANVISA. Esses profissionais, na maioria da área de engenharia mecânica são responsáveis pela manutenção do sistemas de climatização, mas não pela controle da qualidade do ar interno.

Se houve infiltração de agua com crescimento de mofo no ambiente; Se o processo de limpeza de superfícies está inadequada; Se há obras dentro dos ambientes com grande geração de partículas; Se há excesso de plantas com terra nos locais; A responsabilidade dessas ações não cabe ao engenheiro de ar condicionado.

As empresas precisam ter uma empresa ou profissional capacitado para controle e avaliação da qualidade do ar interno. Observe, não estou falando aqui das análises da qualidade do ar. Esse profissional irá interpretar e saber as medidas de controle em função dos resultados das análises.

Os profissionais que desejam trabalhar com Q.A.I. devem ter conhecimentos básicos em outras áreas fora de sua especialização para entender a ciência indoor. Engenheiros tem que saber ler e interpretar relatórios de ensaios microbiológicos e químicos da qualidade do ar. Microbiologistas devem conhecer conceitos básicos de climatização para traçar estratégias corretas de amostragem.

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Hoje, na cidade de São Paulo, um biólogo, com apoio de equipe multidisciplinar é responsável pela fiscalização sanitária de sistemas de ar condicionado. Não precisa ser um especialista em ar condicionado, para verificar uma casa de máquina suja. Ou uma bandeja com formação de biofilme. Da mesma maneira que esses fiscais inspecionam restaurantes ou supermercados atrás de pragas ou alimentos estragados, sistemas de ar condicionado estão sendo verificados quanto a limpeza e potencial de risco a saúde da população.

No mundo de hoje, estamos vendo médicos estudando informática para desenvolver softwares que ajudam em diagnósticos e cirurgias. Engenheiros pesquisando biotecnologias para melhorar embalagens e garantir maior prazo de validade a alimentos. Advogados especializados em ciências ambientais.

Com a preocupação da qualidade do ar crescente, fiscalização sanitária mais atuante, competitividade em alta, os profissionais de ar condicionado deverão ter visão ampla da ciência de QAI, especializando-se em outras áreas ou trabalhando em conjunto profissionais de diferentes especialidades. Só assim serão capazes de encontrar, entender e achar soluções para problemas de qualidade do ar de interiores que afetam a vida das pessoas em todo o país.]

leia direto no Linkedin do eng. Leonardo Cozac ACESSE